Wednesday, December 30, 2009

Resposta a Camões




para o Luís Quintais


Foi a noite junto à igreja de Diu
ou a tarde que entrámos nas grutas de Elefanta?
Há na tarde para sempre perdido um navio
e há na noite um demónio sinistro que canta.

Os deuses que avistámos na loucura mansa
vingaram-se de nós com seu simples durar
e o Cristo que trouxémos na guerra e na bonança
fez-se deus nesta terra e perdeu-se do mar.

Foi a noite que trouxe este manso esquecer
em que a História se deu no passo de uma dança
e nos chamam de longe os que vieram morrer
além da sua terra e aquém da lembrança?

Foi a noite a entrar na igreja de Diu
ou a sombra de Deus na ilha de Elefanta?
Shiva hermafrodita desta cave sorriu
e o mundo se fez contra toda a esperança!





Contra Wittgenstein

Mas eu gostaria sempre de dizer outra coisa:
o que percebo passa-me ao lado,
então balbucio, rascunho, apago
- e por isso a poesia.

Do que se não pode falar
sempre se pode
amassar um poema.

O caminho das Índias

Houve terras que de tão sonhadas
não puderam ser ditas senão em prosa lenta,
isto é, em poesia.

É preciso ir além do deslumbramento,
como se foi além da dor
(e é mais difícil,
porque o deslumbramento dura menos
e distancia).

Nessas terras o comércio das palavras
fez-se entre olhares desdenhosos e juras
de sangue.

Foi tão estranho seguir
esta rota para a poesia...

A Golconda

Perdida a rota da Golconda,
os teus olhos brilham no escuro,
com a ironia dos homens do mar
abandonados em terra.

E junto de mim perguntam
o que traz este marinheiro
das terras perdidas?

Tuesday, December 29, 2009

Ao grande mentor deste blog

Tintin et Milou, conhecidos quando eu era criança como Tim Tim e Ron Ron...


À inspiradora deste blog: Alcipe


D.Leonor de Almeida Portugal, Marquesa de Alorna, nome literário Alcipe (1750 - 1839)

Um encontro em Lisboa, no Palácio do Marquês de Fronteira, graças à generosa hospitalidade do seu titular e neto de Alcipe, o meu querido amigo Fernando Mascarenhas.


Saturday, December 26, 2009

Bom Ano Novo e Boas Festas de Passagem!


Sobre antologias de poesia

Obviamente, as boas são as que me incluem, as más a que me excluem - e qualquer poeta que pretenda que não pensa assim, m-e-n-t-e!

Friday, December 25, 2009

Dizem que o mundo está perigoso... preparemo-nos!

Natal

Natal de quê? De quem?

Daqueles que o não têm?

Dos que não são cristãos?

Ou de quem traz às costas

As cinzas de milhões?

Natal de paz agora

Nesta terra de sangue?

Natal de liberdade

Num mundo de oprimidos?

Natal de uma justiça

Roubada sempre a todos?

Natal de ser-se igual

Em ser-se concebido,

Em de um ventre nascer-se,

Em por de amor sofrer-se,

Em de morte morrer-se,

E de ser-se esquecido?

Natal de caridade,

Quando a fome ainda mata?

Natal de qual esperança

Num mundo todo bombas?

Natal de honesta fé,

Com gente que é traição,

Vil ódio, mesquinhez,

E até Natal de amor?

Natal de quê? De quem?

Daqueles que o não têm?

Ou dos que olhando ao longe

Sonham de humana vida

Um mundo que não há?

Ou dos que se torturam

E torturados são

Na crença de que os homens

Devem estender-se a mão?

Jorge de Sena, Exorcismos

Natal

Ladainha dos póstumos Natais-David Mourão-Ferreira

LADAINHA DOS PÓSTUMOS NATAIS


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


David Mourão-Ferreira
in Obra Poética II

Thursday, December 24, 2009

Fado da minha esquina

A minha casa é nesta esquina
e a esta esquina voltarei
ao entender que o mundo já
é tudo o que não saberei.

Agora contorno a esquina,
Picoas à Taprobana,
e lembra-me de outra sina,
mas deixei-a por que bandas?


Wednesday, December 23, 2009

Quadras a uma passagem por Lisboa

Esta luz que nos envolve,
esta cidade que embala
o que mais em nós se move,
o terno travo da fala

de repente faz-nos mudos,
esquecidos de quanto rói
por dentro mesmo do fruto
a nossa força e nos mói:

até pararmos algures
junto do rio ou do mar;
porque ainda que não dures,
a tua força é ficar!

Monday, December 21, 2009

Bartleby, o que foi poeta

Quando não escrevo
deixo brilhar o silêncio
à volta de mim.

Mas a realidade traz esta luz
que apaga todos os pontos luminosos
que nasceram à volta do que não escrevi.

Resigno-me por isso a não estar simplesmente aqui:
preferia  que não ...
 

Thursday, December 17, 2009

"Hei! Isto aqui não é o Calçadão de Copacabana!..."

                                   Bombaim, Marine Drive

Sunday, December 13, 2009

Ilha de Elefanta, Bombaim

Os deuses sempre ali estiveram:
talvez os Portugueses tenham desfigurado as estátuas,
por julgarem ofender a Fé de Cristo.
Mas não deixou nunca de nos enfrentar o sorriso de Shiva,
que sabe alguma coisa que nós
nunca chegámos a saber.
Foram muitos séculos
e não pudémos por isso fazer a estes deuses
o que fizémos aos deuses do Olimpo...
O falso deus adora o verdadeiro,
escrevia Camões.
Mas que fazer quando todos os deuses
são ao mesmo tempo falsos e verdadeiros,
avatares e demónios,
criadores, preservadores e destruidores?
Quando os deuses dançam
sobre todas as transformações?

Saturday, December 12, 2009

Bombaim

Saio sempre daqui com o sentimento de que me escapou totalmente a vida desta cidade : o que, por pouco que conheça e viva de outras cidades, não senti nunca nem em Deli nem em Calcutá. 

Estive aqui em bons e em maus momentos : em encontros de negócios, em visitas oficiais, em festas sociais e sobretudo durante os ataques terroristas do ano passado.  Sinto a vida intensa, exuberante, cosmopolita, desta megacidade. Sinto toda a força que emerge aqui. Mas não sei falar desta cidade. E do que não sabemos falar, é porque ainda não aprendemos a amar...

Haverá outro dia.  Como a São Paulo do Caetano Veloso, esta cidade é para mim talvez "o avesso do avesso do avesso" da Índia.  E, como aconteceu na canção do Caetano, talvez um dia eu descubra esta cidade!



 

Por exemplo, isto, encontrado em Diu...

Mais indo - portugueses : os gujarates

Foram do Gujarate para Moçambique, muitas vezes há três gerações ou mais.  No meio do processo de descolonização, muitos acabaram por escolher Portugal como destino.  Não retornaram, porque a sua origem nunca foi Portugal : mas traziam consigo arreigada a língua portuguesa e bem vivos muitos dos nossos jeitos e costumes, misturados com a língua gujarate e com a  religião hindu...

Vivem em Portugal há 30 anos, mas mantêm família aqui na Índia e também ainda muitas vezes em Moçambique.  Conhecemo-los bem em Lisboa (alguns, menos, no Porto).  São comerciantes, industriais, banqueiros, gente com poder económico.  Todos mantêm bem activamente negócios com a Índia.

Ontem, num esplendoroso casamento em Bombaim, no meio dos rituais hindus, dos saris pesados de ouro e pedras preciosas e das conversas em gujarate e inglês, sentamo-nos  a uma mesa com um grupo de lisboetas  hindus, a partilhar todos os modismos do português alfacinha mais castiço!

Saudação à Comunidade Hindu de Lisboa, cujo presidente encontrei neste casamento!  E à responsável pelo programa semanal sobre a religião hindu na RTP 2, que também aqui conhecemos!

Mais indo - portugueses...




Wednesday, December 9, 2009

Mário Miranda, um olhar goês sobre Lisboa

Lisboa vista pelo goês Mário Miranda...

Temos obrigação de o conhecer melhor!

Tuesday, December 8, 2009

Poesia e diplomacia (2)

Ontem, num jantar que ofereci aos colegas iberoamericanos, para comemorar a Cimeira do Estoril, li o seguinte poema de José Emilio Pacheco (mexicano, Prémio Cervantes deste ano):

A LA ORILLA DEL GANGES

A la orilla del Ganges aguardé,
por espacio de cuatro siglos,
el cadáver de mi enemigo.

Vi pasar en el agua restos de imperios,
pero no los despojos de mi enemigo.

En el proceso me volví piedra, plata, raíz
y luego un poco de basura flotante
que se llevó entre sus ondas el Ganges.

Qué decepción : jamás me vi pasar,
nunca supe que yo era mi enemigo.

Bazares e diplomacia : o público acorre!

Bazares e diplomacia : missão cumprida

Bazares e diplomacia (2)

Montagem do pavilhão...

Bazares e diplomacia : o bazar diplomático em Nova Deli

Começamos a montar o pavilhão português...

Sunday, December 6, 2009

Advice to Women

       Keep cats
   if you want to learn to cope with
   the otherness of lovers.
   Otherness is not always neglect -
   Cats turn to their little trays
   when they need to.
   Don't cuss out of the window
    at their enemies.
   That stare of perpetual surprise
   in those great green eyes
   will teach you
   to die alone.

   (Eunice de Souza, grande poeta indiana contemporânea)

   Este post é dedicado à Maria Ana e à Cora, para que vivam muito tempo e 
   não estejam nunca sozinhas!



Saturday, December 5, 2009

Sabedoria e diplomacia

"Surtout pas trop de zèle" (Talleyrand)

Friday, December 4, 2009

Vida social e diplomacia

Jantar em honra de António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, com a presença do Vice- Ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, Shashi Tharoor.

Nova Deli, 2 de Dezembro

Wednesday, December 2, 2009

Poesia e diplomacia

"Il y a, voyez-vous, dans la combinaison diplomatie - littérature, une sorte de rapport intime qui peut paraître mystérieux, curieux en tout cas, mais qui n'est pas sans une base rationnelle. Le diplomate, comme le poète, travaille avec des mots, transpose des mots, s'en sert comme d'une clé qui n'est pas nécéssairement un passe - partout..."

(Dag Hammarskjold,  Secretário Geral das Nações Unidas entre 1953 e 1961,  em entrevista ao Figaro littéraire de 15.11.1960,  citada em Saint John Perse,  Correspondance avec Dag Hammarskjold,  Gallimard,  Paris,  1991) 

Friday, November 27, 2009

Melo Antunes

À medida que a noite avançava, o silêncio atento e pensante transformava-se numa argumentação rigorosa, implacável de lucidez, mas sempre atenta aos argumentos opostos e contrapostos, num permanente jogo socrático, que não inibia as decisões, mas lhes conferia uma dimensão sofrida, longe da alegria irresponsável dos criadores.

Ernesto era um construtor dilacerado: um homem de acção no qual o pragmatismo frio, indispensável a todos os políticos, assumia o drama interior permanente da tensão entre a convicção e a responsabilidade (nos conceitos de Weber), entre o ideal e o possível, diríamos nós.

Os criadores, os construtores de impérios são fingidores irresponsáveis, como os poetas; os homens de acção, os verdadeiros revolucionários são os que vivem dilacerados entre o real e o possível : o que culmina no sofrimento dos bons (Ernesto) ou na pura crueldade dos homens que negam a sua humanidade (Lenine).

Ernesto ouvia Beethoven (ofereceu-me a caixa de Cds dos últimos quartetos). Lenine, esse, dizia "não posso ouvir Beethoven; faz-me esquecer a Revolução".

Ernesto, já estou a dizer demasiados disparates, não é? Eu passo-lhe agora o whisky, desculpe...

Thursday, November 19, 2009

A Índia, o Japão, a Coreia do Sul, a Nova Zelândia e a Austrália agradecem

"A democracia está onde está e onde sempre esteve: no mundo euro-americano - agora decididamente estendido à antiga Europa do Pacto de Varsóvia. Isto é Américas e Europa"

Maria José Nogueira Pinto, "Diário de Notícias", 19-11-2009

A barra de Damão

Wednesday, November 18, 2009

A Goa de Mário Miranda

E agora Goa...

E parto no sábado para Goa, de novo:  encontro com professores de Português em casa do nosso activo Cônsul Geral, Paulo Pocinho,  inauguração do Festival Internacional de Cinema com a  Ministra da Cultura da Índia e muito "beautiful people" e,  já não oficialmente,  visita aos nossos queridos Mário Miranda e Habiba e jantar em casa do Wendell.

Viajamos com o embaixador do Brasil e com a nossa grande amiga Cora Rónai, que anda  em profundo périplo indiano,  que aconselho sigam em cora.blogspot.com.

Ah! E sexta feira inauguração do primeiro restaurante português em Deli, "O Palácio", com actuação da fadista goesa Sonia Shirsat ...

Saudades de Goa!

Saturday, November 14, 2009

Glosa a uns versos de Nemésio

Se com quase quarenta anos mal começa,
ovo de tanta coisa, o coração,
que direi hoje, com quase sessenta anos?

Que névoa fria cerca agora o coração
e que voz de dentro resiste a essa névoa,
pois o amor não pára enquanto continuar
o mundo?

Abre os olhos, meu amor:
o mundo é vasto e diverso e brilha 
por entre a névoa mais densa. 

Friday, November 13, 2009

Damão e Diu

Uma viagem de uma semana por Damão e Diu fez-me voltar a pensar nesta questão dos indo-portugueses...

É que eles existem! Não são velhas figuras fantasmagóricas, tal  como aparecem no filme "A Dama de Chandor" de Catarina Mourão (um mau retrato de Goa, ao contrário do filme de Catarina Portas e Inês Gonçalves, "Pátria Incerta"),  ou relíquias do passado,  como as descreve William Darlymple.

Têm esse lado saudosista e arcaizante:  mas têm também uma geração nova, interessada e interessante. Têm emigrantes em todo o mundo. Têm uma curiosidade intensa pelas suas origens.

São uma élite? Mas então quando pensamos na Índia só pensamos nos camponeses do Bihar? São minoritários? Mas neste extraordinário país, quem não é afinal, de uma ou outra maneira, minoritário? 

São mal conhecidos e mal apreciados pelo pensamento politicamente correcto pós colonial, que rejeita misturas de raças e de identidades, chegando assim objectivamente a posições paradoxalmente próximas dos fanáticos identitários...

São rejeitados pelo pensamento global dominante, que impôs a superioridade anglo-saxónica a todo o mundo, rejeitando as colonizações espanhola e portuguesa para a "lenda negra" e as colonizações francesa e holandesa para o esquecimento...

O seu afecto por Portugal incomoda alguns puristas que vivem ainda nos anos 60!  Não é o caso do governo indiano, que se congratulou, em declaração pública do seu Primeiro Ministro, com o legado que constitui para a Índia "the Portuguese heritage in Goa, Daman and Diu".  

(Uma editora norte americana de "African Literature" recusou publicar Mia Couto e Luandino Vieira como autores africanos ... pela cor da pele!).

Amanhã continuo...

Sunday, November 8, 2009

Um cruzamento ideológico (Berlim)

A Berlim, no décimo aniversário!

A capital mais jovem e excitante da Europa, na minha opinião...

Saturday, November 7, 2009

Historiadores e diplomatas : K. M. Pannikar

"Even accepting that the connection with Europe has been beneficial to India, it is open to doubt whether a century and a half of barbarous outrages, of unscrupulous plunder and of barren aggression, is not too great a price to pay for the doubtful benefits of having the way opened for other European traders. India's own direct trade was ruined and, in its place, there was established a monopoly by alien races, which had the effect of draining the wealth of India into Europe. The Portuguese of the 16th and the 17th centuries had nothing to teach to the people of India except improved methods of killing people in war and the narrow feeling of bigotry in religion"

(K. M. Pannikar, "Malabar and the Portuguese")

And now for a totally different view:

"Les relations entre l'Inde et la France allaient changer. Mme Pandit, la soeur de Nehru, ambassadrice à Londres, rentrait aux Indes par Paris. Elle vint à l'Élysée, accompagnée de l'ambassadeur de l'Inde en France, le serdar Pannikar, Indien à barbiche et à lorgnon, anti - Européen, plein d'idées astucieuses ou chimériques, qui faisait penser à Lénine et à Tartarin. Après les paroles de bienvenue, le général De Gaulle demanda à son interlocutrice comment elle concevait la politique étrangère de la Chine. Pannikar avait représenté l'Inde à Pékin; Mme Pandit, qui est la courtoisie même (...) se tourna vers lui. Il commença une conférence sur la Chine, qui n'apportait rien. Le temps passait. La Chine le conduisit à un parallèle entre les sinn-feiners et les fellaghas. Le temps passait. Lorsqu'un aide de camp vint annoncer l'ambassadeur des États Unis, ni Mme Pandit ni le général De Gaulle n'avaient pu placer un mot.
(...)
Pannikar repartit bientôt pour l'Inde. On disait que Nehru n'avait pas été fâché de se débarrasser de lui"

(André Malraux, "Antimémoires")

É o mesmo personagem, sim!

Thursday, November 5, 2009

Fundação Gulbenkian

Não quero ser pomposo, mas não posso deixar de destacar o papel que a Fundação Gulbenkian assume na nossa presença cultural na Índia .

Ouvir as palavras de gratidão a Portugal que ouvi em Calicute, como tinha já ouvido em Cochim, em Goa ou em Daca (Bangladesh), saber que devemos essas palavras, essa gratidão e essa persistência da nossa memória aqui à Fundação Gulbenkian, não deixa de nos emocionar...

Agora digam que eu sou "puxa-saco", como dizem os brasileiros...

Wednesday, November 4, 2009

Sessão de poesia indiana e portuguesa

Foi na Embaixada em Nova Deli, no Centro Cultural do Instituto Camões. A regra do jogo era: foi facultado a uma poeta indiana de expressão inglesa (Rita Malhotra) um conjunto de poemas portugueses do século XX, em tradução para inglês (as do Griffin do Pessoa, a antologia de 1978 do Hélder Macedo e mais outras coisas que não sei onde ela foi descobrir...).

A partir daí, a nossa amiga Rita definiu um conjunto de áreas temáticas (luz, vozes, solidão, ilusão, linguagem, símbolos...), para cada uma das quais foram escolhidos poemas portugueses e poemas indianos (a maioria escritos em inglês, apenas um traduzido do hindi).

Os poetas indianos acorreram a esta sessão. De Portugal tivémos uma selecção canónica e essencial: Pessoa, Torga, Sophia, Sena, Eugénio. Faltou-nos o Nemésio, o Cesariny, o Carlos de Oliveira,o Herberto, o Ruy Belo ... mas foi um bom começo!

Como representante da poesia mais jovem, trouxémos um poema de Luís Quintais...

A resposta dos poetas e do público foi excelente e entusiástica.

Procuraremos ser um pouco menos canónicos no futuro...

Dois versos de que gosto



É tão difícil escrever um poema
que não fale da morte.

(Manuel de Freitas, Intermezzi op. 25, Opera Omnia, 2009)

Tuesday, November 3, 2009

À tarde, em casa

Entardecer entre animais pequeninos,

pássaros que debicam a relva do jardim,

esquilos que sobem e descem das árvores,

eu próprio, no meio dos jornais.

Nenhum deus se lembrou de aparecer esta tarde:

e foi melhor assim.

Sunday, November 1, 2009

Indira Gandhi em Portugal (1940): like being in India...


"She was stranded in Lisbon, waiting for a flight to England, for nearly two months. "The Portuguese are very poor and very dirty" she wrote to Nehru (...)."A lot of women and children are barefooted and there are many beggars. People spit all over the place - there is a terrific amount of shouting and many hawkers... It is almost like being in India."

Katherine Frank, Indira, the life of Indira Nehru Gandhi, Harper Collins, 2001

Não conheceu as nossas castas superiores...


Saturday, October 31, 2009

Encruzilhada no Ganges, com Guimarães Rosa pelo meio

Se olhares as margens do rio,
nunca entenderás o seu curso.
Mas se mergulhares no rio,
nunca chegarás à terceira margem.

Detenho-me junto ao rio,
como diante do sinal luminoso
antes de cruzar a avenida.
Não há apenas aqui dois caminhos.

Nunca há só dois caminhos:
o Bem e o Mal estão contidos no mesmo forno
que coze a escassa farinha.
Ficar na margem? Entrar no rio?

Detenho-me no cais.
As piras estão acesas,
despedimo-nos aqui.


Historiadores

O equivalente do Prof. Subramanyam no Brasil é o (também excelente) historiador Luís Felipe de Alencastro, que pretende que os portugueses inventaram a escravatura (Espártaco era apenas um respeitado dirigente sindical) ou, pelo menos, o comércio marítimo dos escravos (os árabes na Idade Média promoviam apenas viagens benévolas para trabalhadores migrantes).

Depois há o medíocre Leslie Bethell, que protestou por o Presidente de Portugal ter sido convidado para a cerimónia dos 500 anos do Brasil!

Há historiadores e historiadores... De Subramanyam ou Alencastro podemos discordar, mas têm obra feita, importante e incontornável. Mas Bethell? Bethell who?

Friday, October 30, 2009

Texto publicado no último número da Colóquio Letras

AS CIDADES EM QUE VIVO

 

 

Para a Didas, outra vez

 

 

1.As cidades atravessam o nosso tempo de vida e escrever delas é sempre uma despedida. Quem dirá o luto das cidades, a esplanada desaparecida  da rotunda central, as novas fachadas de vidro e metal que nos vêm lembrar duramente que este já não é o nosso tempo? A minha cidade não existe, como o tempo não existe, no famoso paradoxo agostiniano: o passado já não é, o futuro ainda não é!

 

Eu tive cidades e deixei-as ir: não as enumero, visito-as. Mas tenho cidades acumuladas de memória e passado (as que já não são) e cidades erguidas num futuro imponderável e transparente (as que ainda não são). Poderia falar aqui de muitas cidades, como se andasse a remexer nas gavetas em velhas cartas de amor. Agora escolhi, num arriscado gesto de fidelidade ao presente, escrever da cidade onde vivo, uma cidade de cidades, feita de tantos espaços e tempos como os milhões que a cruzam dia a dia, num frenesim de colmeia.

 

Deli: que diria se dela me despedisse? A sensação que prevalece é a do movimento – como se as ruínas sobre as quais se construíram outras ruínas para sobre elas se construírem os verdadeiros templos do nosso século, os “shopping malls” (algo diferente dos “centros comerciais”), se evanescessem perante a força destes milhões que se movem, dentro dos seus carros de luxo, em cima das suas motocicletas, apinhados nos “rickshaws”, acumulados dentro de derruídos autocarros ou simplesmente caminhando ou acocorados no passeio ou comendo, fazendo a barba, tomando banho em plena rua. Cruzam-se as criancinhas das escolas, impecáveis nas suas fardas de molde britânico, com as crianças pedintes da rua, que chamam constantemente a atenção dos carros e dos passantes.

 

Recordarei mais a rua e a vida do que todos os túmulos mogóis ou esses enormes palácios que os ingleses construíram para sepultar o seu império (ó Shelley, ó Ozymandias!) e que servem hoje de cenário à complexa e intensa vida política da Índia, que é meu trabalho estudar  e, tanto quanto possível, compreender. Recordarei mais os mercados de bairro (o Khan Market, onde sempre encontro o livro que quero, mesmo que tenha saído em Londres na semana passada!) do que os grandes “shopping malls” de Saket, onde os adolescentes passeiam impecáveis nas suas fardas de molde americano (“jeans” e “t-shirt”), cruzando-se com as crianças pedintes das ruas, que nos vendem flores, doces ou mapas.

 

Recordarei a Velha Delhi, onde tudo se vende nos passeios, à porta de lojas arruinadas, onde (ensinou-me o Luís Filipe Tomás!) se encontram os melhores alfarrabistas da Índia, onde as cabras passam no meio das revistas antigas expostas no passeio, mais do que os Lodhi Gardens, onde os intelectuais se encontram para tomar chá, fazer caminhadas entre os túmulos dos Lodhi (de que século estes Lodhi? - consultar mais logo o guia…) e ir ver as exposições ou os filmes europeus no Indian International Center ou na Alliance Française. Recordarei a Connaught Place, o centro do que não tem centro e o grande espaço ajardinado no interior do seu Inner Circle, por cima da moderníssima estação de metro. Recordarei os joalheiros, as lojas de tecidos, as explosões de cores por dentro de outras cores, as luzes efervescentes do Diwali, as tintas que deitam por cima de nós no Holi, as explosões de fogos de artifício sem razão conhecida (talvez mais um deus, dentre os trinta milhões…). Recordarei e guardarei para sempre comigo Ganesh, o deus com cabeça de elefante, o padroeiro dos escritores , que arrancou o seu grande dente de marfim para escrever o poema que lhe era ditado por um outro deus, como o Ion de Platão ou o Rilke no Duíno…

 

A religião está por toda a parte, nas pujas (orações) feitas nas lojas em pleno horário laboral, nos santos homens (sadhus) que passeiam pelas ruas alucinados e semi-nus, no cântico do muezzin na mesquita mais próxima, mas também na vasta, imponente e algo vazia catedral católica (as igrejas com santinhos e imagens de Nossa Senhora estão em Goa  ou no Kerala) ou na igreja anglicana, que agora se chama “Church of India”…

 

Recordarei o carnaval (para lhe chamar assim, não me lembro do nome exacto da festa religiosa) muçulmano na Velha Deli, os carros alegóricos, todos ornamentados com figuras geométricas abstractas, os dançarinos que tocavam tambor até ao extremo do êxtase e do delírio (e até conseguirem as suas vinte rupias…), os doces partilhados na melhor doçaria ao pé da Grande Mesquita…

 

Recordarei a gentileza dos crentes no templo de Chattarpur (outros templos hindus há em que não podemos entrar), a delicadeza algo irónica, mas atenciosa, com que nos ensinavam os circuitos rituais, o caminho a tomar, os gestos a fazer, para cumprirmos a visita do seu templo, mundo que não nos pertence, mas a que nos não queriam deixar ficar inteiramente estranhos…

 

Recordarei o que, antes de partir para cá, li num livro do meu colega embaixador Pavan Varma (“Being Indian”): a religião hindu não é uma religião da passividade, o homem indiano não é o homem da renúncia. A deusa Laxmi pode entrar nas nossas casas e dar-nos a fortuna, assim saibamos nós investir nela as nossas oferendas (ideia tão racional como  a dos recentes fundos derivados de Wall Street e que fez muito menos mal ao mundo…). A economia indiana cresce, mesmo em plena crise, “caminha radiosa sobre a sua própria miséria”(para citar Hoelderlin e ao mesmo tempo aludir com delicadeza às contradições terríveis deste país, numa elegante litotes ou “understatement”, que é como deve dizer um diplomata…).

 

A ideia do indiano como ser de renúncia e de negação do mundo veio-nos da leitura dos clássicos indianos feita, arrebatadamente, no século XIX, por Schopenhauer. Ora os clássicos, como sempre, dizem tudo e o seu contrário.  O “Bhagavad Gita”, quase um diálogo socrático, é uma apologia da Guerra (Krishna) ou uma defesa da Paz (Arjuna)?  Nem uma coisa nem outra, é uma exposição rigorosa do Dever (o nosso “Karma”). Um dever transcendental, diria que acima da própria lei moral e do seu céu estrelado…

 

O anoitecer levanta ainda mais ruído na cidade. Os meus colegas mais novos irão para uma dessas discotecas de Greater Kailash, onde se encontra o “beautiful people”, com direito a aparecer na coluna social (aqui diz-se “page three”) do “Delhi Times”. Penso no poeta Ghalib, um homem que assistiu aos massacres de 1857 e ao fim do Império Mogol. O túmulo dele está em Nizzamuddin, que é um bairro muçulmano por onde passamos agora, saídos dos Lodhi Gardens. É o poeta de Deli, sim, mas de uma Deli que já não existe, a Deli que a divisão da Índia feriu de morte, a Deli da antiga hegemonia muçulmana. Não, esta noite tenho um jantar em casa de uns amigos sikhs, desses que vieram fugidos do Paquistão em 1948, sem nada, a não ser a memória do saque e da violência, e que aqui em Deli refizeram a sua vida e refizeram Deli. O escritor da Deli de ontem e de hoje é um sikh, Khushwant Singh (cujo romance “Deli” está traduzido para português), a quem devemos também delicadas traduções para inglês da poesia urdu, nomeadamente de Ghalib. A Deli de ontem, essa, vive para sempre no tão proustiano, mas tão amargo, “Twilight in Delhi” do escritor de Deli, exilado desde 1948 no Paquistão, Ahmed Ali. Mais uma litotes? Política? Não, apenas literatura…

 

O jantar é longe, numa dessas “farms” enormes, a sul de Nova Deli. Com este trânsito, posso bem contar com uma hora até lá chegar! Vou olhar para a multidão e pensar num texto que prometi irresponsavelmente escrever para a “Colóquio Letras”. Um dia destes terei mesmo que o fazer. Mas a que cidade o irei finalmente prender, esse texto que virá: deixar-me-ei  simplesmente ficar nesta noite de Deli, atravessada de luzes incoerentes e de criaturas improváveis, que enchem a rua e, ao atrasar o percurso, me provocam a imaginação?

 

Ou virá já do Rio de Janeiro esta criança que bate à janela do meu carro e me pede dinheiro por uma boneca esfarrapada que finge vender? Deixo-me arrastar num sonho acordado para a cidade do mundo onde mais intensamente vivi. O risco agora é deixar a escrita passar para o lado do confessional, o mundo dos afectos  torna-se mais denso e a história pessoal impõe os seus ritmos e metros, dificulta-me a máscara ao me abrir ao riso… Mas de você, Rio de Janeiro, eu já me despedi. Escrevi mesmo dois livros para você, eu sei que não deu por nada, mas deixe para lá, ninguém mais deu…

 

Recordar o Rio? Eu não recordo nada. Sou parte dessa corrente que atravessa a minha vida, como o rio do Paulinho da Viola, e tudo de que é feito o Rio está presente em mim como coisa minha, feita intimidade ou mania, eu sou também daí. Mesmo que vocês não queiram.

 

Então penso no livro que estive hoje a ler, de Maitreyi Devi, e do verso do Bhagavad Gita a que ela se agarra para conseguir dar coerência ao seu passado e poder recuperar a identidade do seu amor: “unborn, eternal, everlasting, primeval, it does not die when the body dies”. Podemos sorrir da poeta de Calcutá, que inspirou “La nuit bengali” a Mircea Eliade… Mas não deixo de pensar na diferença entre a sedução feita de curiosidade e deslumbramento que me inspira Deli e essa espécie de amor fusional, “eterno e primordial”, que me leva a identificar-me agora com um Rio de Janeiro inventado por cinco anos de felicidade, vividos em comum…

 

Entramos agora na área das “farms”. Como é a estação dos casamentos, cavalos enfeitados e bandas de música sonâmbulas espalham-se pela rua, rumo às suas diferentes festas. O carro contorma os músicos, os cavaleiros, um ou outro búfalo desgarrado, estamos perto do nosso destino.

 

Se um comboio agora soltasse lentamente o seu apito sobre toda esta mirabolante cacofonia, eu imaginaria anacronicamente a tarde em que o escritor húngaro Frigyes Karinthy se sentou no Café Central, junto da Biblioteca Universitária de Budapeste, e começou a ouvir partirem comboios, um a seguir ao outro, num “ruído insistente, contínuo, suficientemente forte para cobrir todos os barulhos reais”. Karinthy pensou então que todos os órgãos do corpo humano poderiam ser dotados do dom da palavra e alguns meses mais tarde foi operado a um tumor no cérebro.  Por mim, eu apenas esperava por vezes alguns amigos no Café Central de Budapeste, porque não há já tertúlias, os escritores húngaros agora até parece que moram todos em Berlim, mas à entrada do Café Central as velhas revistas dos anos 30 expostas em mostradores proclamam aos viajantes o esplendor das letras, como a estátua do Pessoa, a sentar-se com os turistas no Chiado, demonstra a todos nós o esplendor de Portugal. Aqui em Deli, onde os escritores se juntam nos Lodhi Gardens ou na Penguin Bookstore, talvez a partida dos comboios da estação de Nizzamuddin lhes possa algum dia evocar a terrível e extraordinária viagem à volta do seu crânio que em 1936 empreendeu Frigyes Karinthy. Mas espero sinceramente que não, a bem de todas as palavras que possam habitar nos seus corpos e virem a brilhar nas nossas leituras.

 

Parece que chegámos, o motorista insiste em tirar-me do meu sono (ou sonho acordado?). À porta da “farm”, esperam os criados vestidos de marajás. “I call you later” murmuro para o motorista - mais uma função começa para nós.

 

Abro finalmente a porta do carro e deixo-me guiar pelos criados engalanados até aos meus amigos, brilhantes nos seus turbantes coloridos, elas nos seus saris, atraentes como a luz e a promessa da carne (“it does not die when the body dies”)…  Agora eu sou daqui.  Tudo agora é passado e despedida. Tudo um dia será eterno e primordial…

 

 

 

 

 

Ainda Sanjay Subrahmanyam

Termina assim a sua biografia de Vasco da Gama (de alta qualidade científica, mas enviesada pelo seu constante objectivo ideológico de "destruir o mito"):

In a recent essay, a well known Portuguese historian (...) begins by quoting Spinoza: "Concerning human actions, I have tried not to laugh, not to weep, not to detest them, but to understand them".  To the reader of this volume, I hope the message that I have conveyed has been somewhat different, and rather less "Christian": concerning past human actions, to laugh when they are ridiculous, to weep when they are tragic, to detest them as they were often detested by those who were their victims(...) .

É uma concepção da História como catarse, expressão do "terror e da piedade", tal como a tragédia segundo Aristóteles,  mas vai contra este grego, que distinguia rigidamente a História da poesia trágica...

Bom, é uma concepção... Agora chamar ao Espinoza cristão deve fazer revolver-se no túmulo o nosso pobre compatriota, exilado para Amesterdão por judaísmo...

O historiador português mencionado é Luís Filipe Tomás. 


Este blog tem o patrocínio da Fundação Gulbenkian...

Catedral da Madre de Deus, Calicute: agora e antes...


O Samorim Rajá de Calicute

Tive instruções do protocolo republicano da Índia para o tratar por "Your Royal Highness". O senhor tem 96 anos, é encantador, culto e inteligente, passou a sua vida profissional a dirigir um colégio em Calicute. Falou-me dos seus antepassados, o que se encontrou com Vasco da Gama, o sucessor que se avistou com Pedro Álvares Cabral e referiu o gesto do seu antecessor que autorizou Afonso de Albuquerque a mandar construir a Igreja da Madre de Deus de Calicute, agora restaurada com apoio financeiro da Fundação Gulbenkian. O Rajá exprimiu a sua gratidão a Portugal.

O meu encontro com o Samorim de Calicute

Saúdo com emoção o descendente directo do Samudri Raja, com quem Vasco da Gama se encontrou em 1498, num encontro diplomático algo complicado, que terminou com um seco comunicado do Samorim: Vasco da Gama, fidalgo da Casa Real de Portugal, veio à minha terra e congratulo-me com isso. Na minha terra há muita canela, gengibre e pimenta e muitas pedras preciosas. E o que eu quero da vossa terra é ouro, prata e corais.

Pelos vistos, já tinha sido inventada a diplomacia económica... Seco, conciso, pragmático! 

Thursday, October 29, 2009

De novo em Calicute...

...onde vou encontrar hoje o descendente directo do Samorim. Leio o "Vasco da Gama" de Sanjay Subrahmanyam. O historiador escandaliza-se por Vasco da Gama ter mentido ao Samorim, ao dizer-lhe que "Portugal era bem mais rico do que a Espanha, a França e a Inglaterra". Para além de que no século XVI a nossa convergência com os indicadores europeus era muito superior à actual, o ilustre historiador deveria ver como os Estados e as empresas apresentam hoje os seus produtos: ou está a ver o embaixador da Rússia a dizer "na verdade os nossos reactores nucleares são muito inferiores aos franceses" ou o embaixador sueco a dizer "bom, os nossos Grippen não se comparam, é claro, aos Lockheed"? Felizmente para elas, as empresas indianas não seguem os rígidos padrões morais do Prof. Subrahmanyam...

Tuesday, October 27, 2009

Ainda sobre a Poesia...


"Amy Lowell says: "Poetry seems to be, for strange reason, a young man's job". This slapped me in the head like a big heavy cold dogfish. Poetry is a young man's job. What a frighteningly true thought. Poetry is like math or chess or music - it requires a slightly freaky misshapen brain, and those kinds of brain don't last. Sometimes if you can hold on into old age you can have another late flowering, like Yeats - much of adulthood crumbles and fall away, and you're left with highly saturated early memories and a renewed urge for rhyme. But that happens rarely"

(Nicholson Barker, "The Anthologist")

Joana Amendoeira: o fado em Nova Deli


Hoje às 18h30 no Kamani Auditorium, em Nova Deli, Joana Amendoeira canta o fado...

Há nestas paragens uma excelente fadista goesa, Sonia Shirsat. E já tivémos por cá Katia Guerreiro e Maria Ana Bobone...

Joana Amendoeira dará outro concerto na sexta feira, em Calcutá.

Sou pessoalmente um incondicional do fado.

E da voz de Joana Amendoeira.

Monday, October 26, 2009

Damas de Ajanta (500 d.C)


Pinturas murais das grutas de Ajanta : 500 d.C

Viva o frio!

Depois do Diwali, resolvido radicalmente o problema do malvado Ravana, chega-nos aqui a Deli a bênção mais aguardada depois da monção (muito fraca este ano, aqui no Norte): o frio! O friozinho bom!

Saem as malhas e as lãs do armário. No nosso passeio matinal, vemos os guardas e os taxistas enrolados em mantas felpudas. Bom, por enquanto o frio é só à noite e de manhã cedo (como em Lisboa na Primavera...), mas sabe tão bem!

Esperemos agora que Rama, depois de ter recuperado Sita, a trate bem e domine a sua injusta suspeita de que algo se poderá ter passado entre ela e o demónio Ravana, lá no Sri Lanka... Mas isso é uma magna questão da teologia hindu e da exegese do Ramayana, em que eu não posso nem quero ingerir-me!